Publicações 

  Nesta página pretendemos divulgar textos da autoria do Prof. Leonel Luís ou sobre a sua atividade clínica e cientifica que possam ser do interesse da população em geral. 


Curso Luso-brasileiro Avançado de Implantes Cocleares 

Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Santa Maria, Centro Académico de Lisboa, 19 e 20 de Setembro de 2022

Curso de amigdalectomia por coblation/plasma-RF

Este curso que estamos organizar para o próximo dia 29 de Abril, a decorrer no Hospital de Santa Maria e na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, é destinado a especialistas e internos de Otorrinolaringologia e pretende dotar os participantes das competências para a realização da amigdalectomia total e parcial e amigdalectomia lingual, no adulto e na criança, através da radiofrequência. Esta tecnologia permite cirurgias mais rápidas, com menos hemorragia, menos dor e mais rápida recuperação.

Este curso tem a particularidade de transmitir cirurgias ao vivo em tecnologia 3D 4K e ter, também, uma componente hands-on no cadáver.



Consulta de Voz e Deglutição HSM

Consulta de Voz e Deglutição do CHULN realiza rastreios «para se evitar um pior prognóstico»

Publicado em 29 de abril de 2022

Cerca de 70 pessoas passaram pelo Serviço de Otorrinolaringologia do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte (CHULN), nos dias 18 e 19 de abril, com intuito de realizarem um rastreio à voz.
Na grande maioria eram professores, cantores, atores ou apenas pessoas que apresentavam queixas da voz. Foi desta forma que a Consulta de Voz e Deglutição do CHULN assinalou o Dia Mundial da Voz, o qual se havia comemorado 2 dias antes, no dia 16 de abril.Quem chegava para o rastreio da voz começava por responder a um questionário elaborado por terapeutas da fala, sendo posteriormente submetido a uma laringoscopia pelo otorrino. O principal objetivo da iniciativa era detetar precocemente possíveis lesões.
"Há muitos anos que temos esta iniciativa e é habitual haver casos de neoplasias, as quais são imediatamente encaminhadas para uma consulta ORL para confirmação diagnóstica e terapêutica atempada para se evitar um pior prognóstico", explica António Fernandes, recém-especialista em ORL, que integra a Consulta da Voz e Deglutição do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.António Fernandes
Este ano houve cerca de 70 inscritos, selecionados previamente por telefone, mas em anos anteriores - exceto durante a pandemia - esse número ultrapassava as centenas. A retoma progressiva da atividade do Serviço de ORL, após a crise covid-19, é a justificação, pela qual em 2022 não tenha havido mais vagas.
Nos rastreios, aproveita-se também a oportunidade para se educar os inscritos e o público em geral para uma boa higiene e saúde vocais, o que implica a adoção de hábitos saudáveis de vida, sem tabagismo ou consumo excessivo de álcool, prática de exercício físico, evicção de locais muito ruidosos que obrigam a maior esforço vocal e adequada hidratação.
"É crucial que o doente seja avaliado pelo otorrino"
A Consulta da Voz e Deglutição foi criada como entidade própria há cerca de 7 anos, contando com a presença de otorrinos e de terapeutas da fala aquando a avaliação do doente. Contudo, este tipo de apoio sempre existiu no Serviço de ORL do CHULN.Nesta valência são observados todos os doentes com alterações vocais ou de deglutição, as quais podem dever-se a patologia funcional orgânica (benigna e maligna), no caso da voz, e anatómica ou neurológica/neuromuscular, no caso da deglutição.
Face à importância de se iniciar a reabilitação ainda durante a consulta, otorrinos e terapeutas da fala estão juntos logo no diagnóstico. "Consegue-se otimizar muito mais o nosso trabalho se pudermos tomar decisões em conjunto", realça António Fernandes.
A mesma ideia é partilhada por Gabriela Torrejano e Raquel Aires, duas das terapeutas da fala que estão integradas na equipa da Consulta. "Fazemos uma avaliação áudio-percetiva, acústica e aerodinâmica da voz, que possibilita quantificar uma alteração existente, além de aplicarmos o Voice Handicap Index, um questionário que permite ter a noção da autoavaliação do doente", esclarece Gabriela Torrejano.
Continuando: "É crucial que o doente seja sempre avaliado pelo otorrino, porque pode existir algum problema que ainda não se nota através da voz."Gabriela Torrejano e Raquel Aires
A tomada de decisões em equipa é feita no imediato, após o exame, o qual é gravado em vídeo. "Todas as imagens ficam registadas e são discutidas entre nós, otorrinos e terapeutas da fala, conseguindo-se, deste modo, prestar melhores cuidados de saúde; além disso, temos a possibilidade de, sempre que necessário, começar logo a reabilitação", aponta Raquel Aires.
Tratar e prevenir em todas as intervenções
Para o coordenador da Consulta de Voz e Deglutição, Paulo Martins, a multidisciplinaridade é ponto-chave para o sucesso da intervenção, sobretudo quando se depara com casos mais graves e complexos.
Como lembra, "os países do Sul da Europa, nomeadamente Portugal, estão na dianteira do cancro da laringe, o qual quando não detetado atempadamente, pode implicar cirurgias muito mutilantes".Paulo Martins
Na sua intervenção, a equipa tem, ainda, um papel preventivo, informando e sensibilizando para a necessidade de se mudarem alguns hábitos menos saudáveis. "Salvo raras exceções, os cancros da laringe e da faringe devem-se, essencialmente, ao consumo excessivo de tabaco e de álcool."
Além destas situações mais delicadas, o otorrino vê aumentar, ano após ano, a presbifonia e a presbifagia, devidas ao envelhecimento fisiológico e enquadrados no aumento da esperança média de vida da população. "Os rastreios são muito importantes também para estes casos, para que se possa otimizar a qualidade de vida dos idosos."No que diz respeito à covid-19, têm chegado pedidos de ajuda de doentes que estiveram internados em unidades de Cuidados Intensivos e que desenvolveram lesões estruturais e funcionais da laringe ou sequelas pulmonares e miopatias, que exigem a intervenção da ORL e das terapeutas da fala na reabilitação.
Quanto ao impacto do uso contínuo de máscaras durante 2 anos, Paulo Martins considera que "não são causa de qualquer nova patologia", apesar de reconhecer que têm algum impacto em situações pontuais, nas quais as pessoas têm uma atividade profissional que lhes exige falar muito e num tom elevado.Elementos da Comissão Organizadora do Dia Mundial da Voz, em Santa Maria: Antonio Fernandes, Beatriz Lanca e Paulo Martins
O responsável espera que no próximo ano se possa abrir portas a mais pessoas nos rastreios do Dia Mundial Da Voz, já sem restrições na retoma da atividade assistencial. "Prevenir é essencial, quer patologias do foro otorrinolaringológico, quer de outras áreas, as quais começam por ser diagnosticadas, não raras vezes, por alterações na voz e ou na deglutição".Leonel Luís
Para Leonel Luís, diretor do Serviço de ORL, a Consulta de Voz e Deglutição continuará a ser uma aposta no futuro, face ao trabalho até agora desenvolvido. "É fundamental haver profissionais dedicados a esta área, que tem um forte impacto na qualidade de vida das pessoas."


Dia Mundial da Audição: "Temos de facilitar o acesso ao diagnóstico e à reabilitação"


No Dia Mundial da Audição, assinalado a 3 de março, a My Otorrino / News Farma entrevistou o Prof. Leonel Luís, que apela à importância de consciencializar sobre os problemas auditivos de forma a diagnosticar precocemente e prevenir problemas futuros.

https://www.myotorrino.pt/entrevistas/item/715-dia-mundial-da-audição-"temos-de-facilitar-o-acesso-ao-diagnóstico-e-à-reabilitação".html 

https://www.newsfarma.pt/noticias/11604-"temos-de-facilitar-o-acesso-ao-diagnóstico-e-à-reabilitação".html 

Os problemas auditivos, comuns aos mais idosos, dificultam a sua capacidade de compreensão, tal como começa por afirmar o Prof. Doutor Leonel Luís, identificando as consequências visíveis nos doentes. "Somos seres sociais, que dependemos da comunicação e do convívio social. Sem este contacto isolamo-nos, deprimimos e envelhecemos. Precisamos de conviver, debater e conversar."

Relativamente aos aparelhos auditivos tem existido uma grande evolução "desde a amplificação acústica até pequenos aparelhos com microfones direcionais e chips que melhoram as frequências e isolam o ruído de fundo."

O otorrinolaringologista destaca a maior evolução tecnológica nesta área: "o ouvido eletrónico que substitui a função, permitindo ao cérebro reconhecer, mesmo que o doente tenha nascido sem essa capacidade. Permite aos bebés que nascem surdos, ouvir música, desenvolver a fala e frequentar o ensino juntamente com as outras crianças."

Sobre o desenvolvimento dos sintomas e o diagnóstico, o Prof. Doutor Leonel Luís esclarece que "nas crianças, geralmente, há um atraso no desenvolvimento da fala. Uma boa solução é o rastreio auditivo que pode ser feito aos recém-nascidos de forma a identificar a surdez. Atualmente, os bebés, em Portugal, já são testados antes dos seis meses de vida."

"Há testes automáticos que geram uma resposta exata e quantitativa, identificando a zona e a causa da perda auditiva. Pode colocar-se uma prótese, amplificando o som", explica. Outra opção disponível é o ouvido eletrónico implantado cirurgicamente

Apesar de os problemas auditivos afetarem maioritariamente pessoas em idades mais avançadas, o Prof. Doutor Leonel Luís alerta também para a importância de sensibilizar os mais novos referindo que os jovens são alvo de traumatismo sonoro devido à exposição elevada ao ruído nas discotecas, por exemplo. O especialista sugere assim que se criem campanhas de sensibilização direcionadas para esta faixa etária.

Relativamente aos implantes cocleares, o Prof. Doutor Leonel Luís reconhece uma conquista: "Já temos um programa no SNS, incluindo vários hospitais públicos e privados, nomeadamente o Hospital de Santa Maria."

É importante incidir na comunicação e divulgação sobre a evolução tecnológica nos tratamentos de problemas auditivos, reforça o médico. "A maioria das pessoas que beneficiariam de reabilitação auditiva, a partir de próteses auditivas ou do ouvido eletrónico, não é tratada". O próximo passo a evoluir nesta área, tal como indica, prende-se com o desenvolvimento de "uma prótese auditiva genérica para o SNS, com boa tecnologia e de baixo custo de forma a estar disponível a todos."

O Prof. Doutor Leonel Luís reforça a mensagem da importância de incentivar a sensibilização para os problemas auditivos e os respetivos tratamentos. "É necessário explicar às pessoas que ouvir mal tem solução, se as próteses já não são suficientes, podem ser colocados implantes cocleares. A cirurgia é simples, praticamente indolor, os doentes têm alta no próprio dia e recuperam a audição, permitindo recuperar a vida que tinham antes, numa dimensão social, cultural, familiar".

"Há doentes que praticamente não comunicavam que agora querem contar tudo o que guardaram durante tanto tempo. Isso traz-lhes alegria, permite uma mudança de vida: saem mais de casa e convivem mais. Têm vontade de viver, comunicar, ouvir música, serem felizes. Ouvir é ser feliz, é esse o objetivo que temos para os nossos doentes", conclui.

Implantes Cocleares: curso inédito organizado por 4 centros Hospitalares


Ouvir mal tem solução?   Na edição da Visão Saúde publicamos um pequeno texto que versa o tema da surdez e do seu tratamento. 

Próximos cursos:

22 de Abril - Dia da Tontura no Brasil



Só tem vertigens quem tem medo das alturas?

Um mito muito longe da realidade

Visão Saúde Julho/Agosto 2020


Faz-se muitas vezes referência a "vertigem" como significando o medo das alturas. Na realidade, vertigem é um sintoma que se caracteriza pela ilusão de movimento. As crianças descobrem muito cedo este sintoma, e dele retiram partido lúdico: rodam sobre si próprias durante algum tempo e, quando param, têm a ilusão de que continuam a rodar, desequilibram-se, podendo mesmo até cair no chão sem que isso signifique qualquer problema ou motivo de preocupação, antes motivo de alegria e de divertimento. Quem tem medo das alturas sofre de uma fobia chamada de acrofobia. Apesar de à primeira vista se poder pensar que vertigem e acrofobia sejam a mesma coisa, a verdade é que não o são. De resto, uma pessoa com acrofobia só muito raramente tem episódios de vertigem associados a um ataque de pânico por se encontrar em altitude, como quando está em cima de uma ponte, ou à beira de um precipício, traduzindo-se esta vertigem numa ilusão de estar a cair num abismo.

Pelo contrário, a vertigem e o desequilíbrio são queixas muito frequentes: 30% da população, isto é, 3 milhões de Portugueses já apresentaram, ou irão apresentar, um episódio de vertigem até aos 65 anos de idade. Muitos destes doentes, após um primeiro episódio de vertigem, podem vir a desenvolver outras fobias ao longo das sua vidas e a consciência disto suscita neles o receio de novos episódios com evidente interferência na sua qualidade de vida. De facto, este fenómeno é de tal forma significativo que os leva a adoptar estratégias, tais como, a de dormir apenas para um dos lados, dormir sentados e, nos casos mais extremos, evitar mesmo sair de casa por temerem que isso os faça experienciar uma nova crise. Pode alguém programar a sua vida, estando confinado à sua casa? Como se pode programar um fim-de-semana com os amigos? Ou ir de férias com a família? Ou até mesmo cumprir aquela vontade espontânea de ir comprar um qualquer bem apetecido, muitas vezes aquilo que traz cor à vida de cada um?

Dados de vários países europeus e dos EUA, mostram que as queixas de vertigem, de tontura e de desequilíbrio representam 1 a 2% de todas as consultas, e de todas as urgências, que se realizam anualmente. Um estudo realizado há mais de 20 anos atrás na urgência do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, mostrou que estes números também se aplicam a Portugal. De todos os doentes que durante um ano recorreram ao Serviço de Urgência, por causas tão variadas como gripes, constipações, acidentes de viação, gastroenterites, crises hipertensivas, etc..., 1% fizeram-no por vertigem ou tontura. Este estudo de 1996 revelou também um outro dado alarmante: até no maior hospital universitário do país, mais de 80% dos doentes observados sairam do serviço de urgência sem qualquer diagnóstico. Mais recentemente, um estudo realizado nos EUA, muito semelhante ao realizado em Portugal, chegou, lamentavelmente, às mesmas conclusões.

Por isso, e para obviar esta lacuna clínica, em Portugal usamos o termo "Síndrome Vertiginoso", no Brazil o termo "Labirintite" e em inglês "Vestibular Syndrome" que não correspondem, no entanto, a um diagnóstico. Um síndrome é apenas um conjunto de sinais e sintomas. Assim, se temos febre, arrepios de frio e dores musculares temos um síndrome febril. Se o nosso médico nos diz que temos um "síndrome febril" não ficamos satisfeitos com esse "diagnóstico" e exigimos saber porque temos esse síndrome febril: será por gripe, pneumonia, amigdalite, ou outro diagnóstico? Se o nosso médico nos diz que temos um "síndrome vertiginoso", que nada mais quer dizer do que aquilo que já sabíamos e nos levou a procurar ajuda médica, ou seja, que estamos com vertigens, tonturas, desequilíbrio, náuseas e vómitos, não nos devemos contentar com esse diagnóstico. Pelo contrário, devemos saber qual a sua causa, qual a sua origem porque muito do sucesso, ou do insucesso do seu tratamento dependerá disso.

Assim, o diagnóstico claro e objectivo da vertigem, especialmente da vertigem aguda, é importante por três grandes motivos:

  1. Por poder ser a apresentação clínica de um AVC, a principal causa de morte em Portugal, pelo que o seu diagnóstico correcto e atempado pode salvar vidas;
  2. Por poder ser uma vertigem desencadeada pela mudança de posição (a muitas vezes apelidada doença dos cristais), muito frequente na população. Neste caso, o seu diagnóstico precoce permite o tratamento imediato através de manipulação da cabeça e sem recurso a qualquer medicamento;
  3. Por a recuperação completa depender intrinsecamente de um rápido diagnóstico, evitando-se, assim sequelas definitivas.

Conseguimos facilmente imaginar o que é perder a visão, o olfacto ou a audição. Conseguimos até imaginar o que sentiremos se um destes sentidos apresentar alguma disfunção. Quando interrogados sobre o que significará a perda ou disfunção do vestíbulo, do "sentido vestibular", não fazemos a mínima ideia. O sistema vestibular faz parte do nosso ouvido interno e é um sistema extraordinariamente complexo e sensível. De facto, enquanto que no ouvido interno temos um único orgão responsável pela audição (a cóclea), existem 5 órgãos responsáveis pelo equilíbrio: 3 canais semicirculares e 2 órgãos otolíticos (com cristais que permitem a detecção da gravidade). A principal função destes órgãos é a detecção dos movimentos da cabeça e o envio dessa informação para o sistema nervoso central na forma de impulsos eléctricos. Depois, essa informação tem de ser continuamente processada com as provenientes da visão e da propriocepção (dada pelos diversos sensores espalhados pelo corpo e que permitem identificar a posição e movimento de cada um dos seus elementos). Por fim, essa informação codificada é enviada para o sistema nervoso central para que este consiga estimar a posição e a orientação da cabeça em relação ao corpo e, assim, desencadear as respostas adequadas para que mantenhamos o nosso equilíbrio. O normal funcionamento do sistema vestibular depende, pois, não só do equilíbrio das suas estruturas, mas também do equilíbrio destas com as restantes entradas sensoriais. E é exactamente a existência de assimetrias neste sistema que causa a ocorrência de vertigem!

A vertigem não é sempre sinal de doença, podendo antes representar uma resposta fisiológica. No início deste texto referimos o exemplo da ilusão de rotação que geramos ao parar após girarmos sobre nós próprios durante um curto período de tempo. Também já todos fomos iludidos com a sensação de o nosso comboio ter iniciado a marcha quando, na realidade, foi o outro comboio posicionado ao nosso lado que partiu. De facto, essa ilusão pode ser tão real que, não só percepcionamos o movimento, como adoptamos estratégias para nos equilibrarmos (desequilibramo-nos!). Se formos ainda mais além, mantendo o conflito sensorial por mais tempo (como quando lemos enquanto viajamos de carros), ou nas pessoas particularmente sensíveis a estes estímulos (nos doentes com enxaqueca), podemos desencadear um quadro caracterizado por tonturas, náuseas e vómitos, commumente conhecido por enjoo de movimento. Um quadro muito semelhante a este pode também resultar da ingestão (mais ou menos excessiva) de álcool ou de outras drogas que "anestesiam" o sistema vestibular. A razão para o surgimento destes sintomas reside exactamente no conflito que é gerado entre a informação enviada pelas diferentes vias sensoriais. E isso não é expectável acontecer na natureza. Assim, para resolver este conflito, o nosso cérebro responde de forma engenhosa. Como para o nosso cérebro primitivo não existe nenhuma razão intrínseca para ser enganado desta forma, a única explicação que encontra para interpretar aquilo que está lhe está a acontecer é que está a ser alvo de um envenenamento. Assim, gera respostas automáticas de náusea e de vómitos exactamente para interromper, ou eliminar, a ingestão do suposto veneno que o está a atacar. E é precisamente por isso que vomitamos quando nos intoxicamos com doses excessivas de álcool.

Mas então, o que se pode fazer para diagnosticar e tratar as Vertigens?

Primeiramente, há-que ter consciência de que a Vertigem só por si não constitui uma doença ou uma entidade patológica. Como já se referiu anteriormente neste texto, pode ser a demonstração de uma situação benigna que não constitui perigo para a saúde das pessoas. Por outro lado, tendo em conta que ao manifestar-se juntamente com outros sintomas (náuseas e vómitos) tão comuns a outras patologias muito frequentes como as gasteroenterológicas, ou tão graves e letais como os AVC, urge alcançar um diagnóstico não só precoce, como sobretudo objectivo. Um outro aspecto que nos parece importante realçar prende-se com o facto de muitas vezes as náuseas e os vómitos que acompanham as vertigens serem de tal modo significativos e predominantes neste quadro que chegam a induzir em erro até mesmo os médicos mais experientes, ao ponto de se pensar que a causa da doença está no estômago e não nos ouvidos (sugere-se, erradamente, que o doente está tonto por ter vomitado muito, ao invés de, na verdade, ter vomitado por estar tonto). Algumas medicinas tradicionais chegam mesmo a considerar que a causa das vertigens está no estômago.

Assim, os sintomas deverão dar origem a um estudo clínico, com ou sem o recurso a exames complementares, que esclareçam o diagnóstico final. Muitos dos exames vestibulares, essenciais para o correcto diagnóstico da vertigem, dependem precisamente da análise das funções dos ouvidos, da visão e dos movimentos dos olhos (não estranhe se o seu médico der particular atenção aos seus olhos durante uma vertigem), da postura e mesmo do funcionamento do cérebro. Este diagnóstico é essencial para que seja possível determinar qual, ou quais, os tratamentos específicos a implementar1. Usando as analogia do "síndrome febril" que utilizámos anteriormente: se a febre é causada por uma pneumonia bacteriana não basta medicar a febre com antipiréticos (medicamentos para combater a febre), impondo-se outras medidas essenciais, nomeadamente, o tratamento com antibióticos para tratar a infecção. Da mesma forma, se a causa da vertigem é uma inflamação do ouvido interno deverá ser instituída forte medicação anti-inflamatória, a par de medicação mais geral para as náuseas e vómitos. Deverá ser também instituída reabilitação vestibular de forma a optimizar e acelerar a recuperação do doente. Pelo contrário, se a causa for um tumor, uma fístula ou um AVC o tratamento não poderá, obviamente, limitar-se a uma terapêutica geral e sintomática, devendo ser instituída uma terapêutica específica e dirigida, tal como a cirurgia, a radiocirurgia ou o tratamento endovascular. Por fim, e caso o problema seja o medo das alturas, existem também vários tratamentos disponíveis sendo que uma das mais recentes e inovadoras ferramentas que temos à nossa disposição é a realidade virtual. Esta é uma tecnologia extraordinariamente poderosa, pois, como o nome indica, promove a imersão em ambientes virtuais, muito realistas mas totalmente controláveis em todas a dimensões. Esta tecnologia é também particularmente útil no tratamento do enjoo de movimento. No entanto, é de salientar que a reabilitação vestibular consiste em exercícios adaptados, personalizados e dirigidos aos défices e às dificuldades de cada doente no seu dia a dia, com protocolos adaptados a cada tipo e fase da patologia, não se limitando à utilização de uma ou outra ferramenta.

Em conclusão, são várias as causas de vertigens, mais raramente as resultantes de medos ou fobias, nomeadamente o medo das alturas. Todas as causas possuem, hoje em dia, uma solução, pelo que, se há um medo que devemos claramente vencer é o medo de descobrir qual a causa das nossas vertigens, devendo ter antes a coragem de procurar e encontrar a solução.

1Para uma leitura mais aprofundada sobre o tratamento da vertigem na perspectiva do doente, recomendamos a leitura do artigo em língua inglesa "Pharmacologic treatment of vestibular disorders" da autoria do Prof. Leonel Luís e do Dr. Dario Yacovino para a Associação Americana de Doentes Vestibulares e disponível em www.vestibular.org.


A chave para solucionar a pandemia de Covid-19 pode estar no nariz

TSF 20/08/2020

A ACE-2 é uma proteína que existe na membrana da maior parte das células, muito especialmente dos pulmões, artérias, coração, rins, intestinos e também do sistema nervoso central, ( e que tem como função a transformação de uma molécula que provoca vasoconstrição numa que provoca vasodilatação). Esta proteína é o ponto de entrada de alguns coronavirus. nomeadamente do mais recente SARS-CoV-2, agente da pandemia que nos afeta atualmente. Os locais que apresentem maior expressão de ACE-2 deverão ser os locais preferenciais para o início da infecção. Assim, a ACE-2 é mais presente no nariz do que nos pulmões, sendo portanto o nariz o local em que mais habitualmente se inicia a infecção. Também, as crianças têm menor expressão de ACE2 no epitélio nasal, e por isso poderão ser menos frequentemente afetadas; os obesos têm maior expressão desta proteína nos pulmões e por isso poderão apresentar um quadro respiratório mais grave. Também, pessoas que apresentem níveis mais elevados desta proteína deverão apresentar uma maior susceptibilidade de infecção pelo SARS-CoV-2. O estudo da Johns Hopkins ontem publicado demonstra pela primeira vez que a proteína ACE-2 está presente não só na mucosa nasal (mucosa respiratória) mas também no neuroepitélio nasal. Ora a presença desta proteína no neuroepitélio nasal, justifica o fato da infecção por este virus provocar anósmia, sintoma tão prevalente nesta infecção (presente em mais de 85% dos infectados) e por vezes o único sintoma que os doentes apresentam. O conhecimento deste sintoma é essencial no sentido de identificar e isolar os infectados, evitando a disseminação da doença. O agora conhecimento de envolvimento do neuroepitélio nasal abre portas ao desenvolvimento de tratamentos dirigidos, nomeadamente locais, bem como à utilização de medidas de prevenção que deverão agora ser avaliadas. 


Vertigens: porque surgem e como se tratam 

Visão Saúde Fev/Março 2020

Quantos tipo de vertigens há?

A vertigem é a ilusão de movimento quando não há movimento ou a percepção de um movimento diferente daquele que está realmente a ocorrer. Esta ilusão é imediatamente reconhecida por todos como estranha, desagradável e causadora de ansiedade e medo. Existem dois grandes tipos de vertigem: a vertigem espontânea, que surge espontaneamente, e a vertigem que é desencadeada por um estímulo, como a mudança de posição (deitar, levantar, rodar), estímulos visuais (luzes, carros e pessoas a passar, como por exemplo num centro comercial), estímulos sonoros, etc...

E como é cada uma delas?- Quais os sintomas?

Os sintomas são transversais e os mais relevantes são claramente as náuseas e os vómitos, associados à ilusão de que estamos a rodar, a cair, ou a ser puxados para um dos lados (lateropulsão). Depois, podem surgir também a perda de audição, a sensação de ouvido(s) cheio(s), os zumbidos e as dores de cabeça.

E quais as causas?- Que tratamentos existem para cada?

A principal causa é a VPPB (Vertigem Posicional Paroxistica Benigna) conhecida mais commumente como a doença dos cristais. Esta doença é causada pela deslocalização dos cristais (otocónias) dentro do ouvido interno. Falando um pouco mais em detalhe, estes cristais saem do órgão que detecta a gravidade, o utrículo, para os órgãos que detectam a rotação da cabeça, os canais semicirculares. Assim, o tratamento desta doença consiste em reposicionar estes cristais no ouvido interno, fazendo-os sair dos canais semicirculares para o utrículo. Esta doença tem uma grande vantagem face a outras doenças conhecidas, pois o seu tratamento é possível de ser alcançado imediatamente após o seu diagnóstico correcto, e sem recurso a qualquer medicação. Finalmente, e para que esse tratamento seja eficaz, temos de identificar com exactidão em que canal semicircular é que os cristais estão deslocalizados, de forma a podermos traçar o caminho necessário para os recolocar no órgão a que pertencem (o utrículo).

Outra grande causa de vertigem é a enxaqueca vestibular, consistindo o seu tratamento na prevenção e tratamento da enxaqueca.

Existem ainda muitas outras causas. A nevrite vestibular, p.ex., é causada pela inflamação do nervo vestibular, como resultado da reactivação de um vírus herpes. O tratamento consiste na administração de potentes anti-inflamatórios. A doença de Ménière resulta do aumento da pressão no ouvido interno, como se de um "glaucoma do ouvido" se tratasse. O tratamento consiste na redução dessa pressão com medidas gerais e medicamentosas, sendo raramente necessário o recurso ao tratamento cirúrgico. Já no caso dos tumores e dos defeitos do revestimento ósseo do ouvido interno, o tratamento é frequentemente cirúrgico.

Em conclusão, o tratamento é sempre dirigido à causa da vertigem. Para se conseguir isso, é necessário obter um diagnóstico através da realização de um questionário sistematizado, uma observação clínica rigorosa e, em casos muito pontuais, recorrer a exames complementares. Não há um tratamento ou medicamento universal.

É possÍvel viver sempre com vertigens?- Há algo que se possa fazer para evitar?

Como explicámos atrás, a prevenção e o tratamento da vertigem dependem sempre da sua causa. Se esta é a enxaqueca devemos tomar as medidas que previnam a enxaqueca (dormir bem, ter uma dieta saudável, evitar o stress e mesmo recorrer à toma de medicamentos); se for a VPPB, manter níveis correctos de vitamina D e evitar os desportos de contacto. Se há uma regra geral, será a de que devemos ter uma vida saudável e activa: caminhar na rua diariamente durante pelo menos 30 minutos parece ser a medida que transversalmente mais contribui para o nosso equilíbrio.

Quem tem vertigens, e enquanto não resolve, o que pode fazer para diminuir o desconforto?

Procurar rapidamente ajuda médica especializada, habitualmente um médico otorrinolaringologista com competência em otoneurologia. A administração de medicamentos que inibem as náuseas e os vómitos é essencial, pois muita das vezes é o sintoma associado que causa maior desconforto. O repouso está também aconselhado, mas tão cedo quanto possível devemos incentivar o levante, bem como a actividade física adequada e inserida num programa de reabilitação vestibular conduzido e supervisionado por uma equipa de médicos e fisioterapeutas especializados.

E o que deve evitar para não agravar situação?

A administração de medicamentos sedativos e a inactividade estão contra-indicadas, especialmente durante períodos prolongados. Muitas vezes sou confrontado com doentes a quem foi dito que tinham de se habituar, de se resignar, que nada havia a fazer... Alguns recorrem aos nossos cuidados após vários anos sem saírem de casa, confinados às suas camas e aos seus sofás. Outros recorrem após anos e anos de sofrerem vários episódios diários de vertigem, quando poderiam ser facilmente evitáveis por serem um tipo de vertigem cujo tratamento é não só fácil, como também rápido. Só para se ter uma noção da dimensão deste problema, partilho um caso real. Há poucas semanas observei uma jovem mãe, com um recém-nascido nos braços, com queixas de tontura e vertigem durante toda a gravidez e a quem foi dito que tudo aquilo que ela sentia era normal. Após o parto iniciou fortes dores de cabeça, mas ainda assim continuaram a dizer-lhe que era normal, que seriam possivelmente o efeito secundário da anestesia epidural administrada por ocasião do parto. Decidiu consultar-nos e, após uma rápida exploração, revelou imediatamente importantes alterações das funções do tronco cerebral e do cerebelo. A ressonância magnética, realizada de imediato, diagnosticou um grande tumor cerebral envolvendo as regiões responsáveis pelos sintomas que apresentava. Por se tratar de um caso grave, e cirúrgico, a doente foi rapidamente operada e actualmente está bem. Mas este caso permite que cada um de nós perceba que este atraso no diagnóstico atrasou o tratamento, e que este acumular de atrasos pôs a vida desta jovem mãe, e desta criança em grande risco. Outro exemplo que é bem ilustrativo da importância de um correcto e rápido diagnósticos, é quando a vertigem resulta de um AVC. Nestes doentes, não valorizar a vertigem por se achar ser a tradução de uma situação benigna, pode

significar a diferença entre a vida e a morte. Em conclusão, é necessário não aceitar a inevitabilidade da doença. Para isso, qualquer doente que manifeste estes sintomas, deve procurar os centros especializados que felizmente o país possui, de modo a ser tratado e conseguir voltar a viver a sua vida de modo pleno e capaz.


COVID : que lições se podem tirar e como prevenir o futuro?

Correio da Manhã, 05/2020

"Se em 2019, segundo inquérito da OCDE, metade dos portugueses estavam disponíveis para pagar mais impostos desde que o propósito fosse a melhoria do acesso a cuidados de saúde, em 2020, e no contexto da COVID-19, a defesa do SNS constitui um elemento consensual e unificador da sociedade portuguesa. O SNS, privados e sector social, provaram não estar divididos por questões ideológicas, económico-financeiras ou de simples gestão de recursos, mas antes unidos em torno da defesa da saúde dos portugueses, na defesa da soberania nacional."

Leonel Luís


Amigdalite, sintomas e tratamento

CM 23/02/2020

- Existem várias formas de contrair uma amigdalite?

A maior parte das amigdalites virais e bacterianas são transmitidas pelo ar.

- Porque é que há pessoas que têm amigdalites recorrentes e outras não?

Algumas pessoas têm um sistema imunitário menos eficaz no combate a estas infeções, nomeadamente pelas características do agente que infecta as amígdalas. Um dos temas mais actuais é a capacidade que alguns organismos têm de enganar o sistema imunitário ou a produção de um biofilme que garante a infecção crónica.

- A cirurgia para retirar as amígdalas já não se faz com tanta frequência como antigamente. Porquê?

Hoje em dia as amigdalites com indicação cirúrgica são as muito frequentes (mais de 6 episódios num ano, 4 episódios/ano em dois anos ou 3 episódios/ano em 3 anos), e as amigdalites complicadas de abcesso. Operamos também as amígdalas, especialmente nas crianças, quando estas são grandes e causam ressonar e paragens respiratórias.

- O que se deve fazer num primeira instância quando se sente dor de garganta?

Medidas gerais, como ingerir líquidos frios (não gelados), evitar comida e bebidas muito quentes, a eventual toma de um anti-inflamatório não esteroide (ibuprofeno p.ex.) e o repouso.

- E depois, caso a amigdalite se confirme, o que fazer?

A maior parte das amigdalites são virais, pelo que as medidas gerais acima mencionadas deverão ser suficientes. Quando são bacterianas, o diagnóstico é usualmente realizado através da observação pelo médico da existência de pus nas amígdalas. Para além disso, também podem ser solicitados exames complementares de diagnóstico como um esfregaço ou análises sanguíneas.

- Quais são os principais sintomas?

Além da dificuldade e a dor ao engolir, a febre, as dores no corpo e de cabeça, o cansaço e a falta de apetite, são alguns dos sintomas mais frequentes. A observação revelará o aumento do tamanho das amígdalas, com eventualmente pus, e o aumento dos gânglios linfáticos em redor do pescoço. A dificuldade em respirar, nomeadamente com roncopatia e paragens respiratórias durante o sono, e a dificuldade em falar (a voz de "batata quente" na boca) são sinais de alarme que requerem a observação urgente por um médico.

- Como se previne?

Para a maior parte da população, a prevenção passa por manter os cuidados gerais de saúde, tais como uma alimentação cuidada, higiene adequada e evitando o contacto com pessoas doentes com amigdalite. Quando as amigdalites são muito frequentes, a indicação é cirúrgica, e passa pela remoção total ou parcial das amígdalas.

- Como se trata?

As amigdalites virais tratam-se com medidas gerais, a ingestão de líquidos e anti-inflamatórios (ibuprofeno p.ex), as amigdalites bacterianas tratam-se com antibióticos (penicilina p.ex.). O tratamento das amigdalites de repetição é geralmente cirúrgico, com a remoção total ou parcial das amígdalas. A remoção parcial das amígdalas, eficaz em 96% dos casos, é cada vez mais a opção escolhida, pois é muito menos dolorosa, tem uma recuperação muito mais rápida e com muito menos complicações.

Tratamento da Vertigem (em inglês)

Associação Americana de Doentes Vestibulares - VEDA

Publicação co-autorada com o meu colega e amigo Dario Yacovino, pai do tratamento da VPPB do canal semicircular anterior

Como evitar as quedas do idoso

O aumento da população idosa, e consequentemente das quedas e suas complicações, tem agravado as implicações sócio-económicas e a necessidade de intervenção na área da geriatria.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o número de indivíduos com mais de 65 anos vai duplicar nas próximas cinco décadas, o que levará a que as doenças associadas ao envelhecimento assumam proporções importantes.

Perante a conjugação das múltiplas alterações decorrentes do envelhecimento, a possibilidade de uma queda torna-se inevitável, instalando-se medo de cair logo após a primeira queda ou "quase-queda".

As quedas são uma das causas predominantes de mortalidade e morbilidade do idoso. As suas consequências vão desde lesões mínimas a patologias graves, que provocam drástica diminuição da funcionalidade, independência e qualidade de vida, e conduzem, por vezes, à morte.

Quedas todos os anos

Mais de um terço dos indivíduos com mais de 65 anos caem todos os anos, e, em metade destes casos, as quedas são recorrentes. Aproximadamente, uma em cada 10 quedas causam lesões graves, nomeadamente fraturas do colo do fémur e de Colles, e hematomas subdurais. As quedas perfazem cerca de 10 por cento das entradas nas urgências hospitalares.

Como fatores intrínsecos das quedas (inerentes ao próprio idoso) indicam-se patologias artríticas, síndromas depressivos, hipotensão postural, alterações cognitivas, visuais, do equilíbrio, da marcha e da força muscular, tonturas/vertigens, síncopes e polimedicação (a relação entre as quedas e a administração de múltiplos fármacos, pelo menos 4, é cada vez mais evidente, salientando-se que muitos deles atuam ao nível dos centros de integração sensorial e do controlo motor, exacerbando os défices fisiológicos já existentes).

Dos fatores de risco extrínsecos das quedas (que respeita ao meio ambiente) salienta-se a fraca ou má iluminação da casa (especialmente no período noturno, entre o quarto e a casa de banho), superfícies irregulares ou escorregadias, tapetes soltos, escadas íngremes ou irregulares, objetos no caminho, vestuário e calçado inadequado, móveis inadequados, inexistência de corrimão, especialmente na banheira.

Programa de prevenção

A necessidade de evitar quedas em idosos predispostos ou com história de quedas repetidas conduziu ao desenvolvimento de Programas de Prevenção de Quedas no âmbito da Reabilitação Vestibular.

Antes de iniciar o Programa de Prevenção de Quedas, o doente é submetido a consulta médica, onde é avaliado/identificado o défice multissensorial e consequente ingresso no programa. São identificados os fatores intrínsecos do risco de queda e pedidos os necessários exames complementares de diagnóstico. Caso se justifique, o doente é encaminhado para outras especialidades médicas.

O fisioterapeuta deverá identificar e orientar o doente e familiar/prestador de cuidados na minimização/eliminação dos fatores extrínsecos de risco de queda, como as condições e características da casa do doente. O Programa de Prevenção de Quedas tem como objetivos gerais:

  • Desenvolver e aperfeiçoar as estratégias de equilíbrio, tornando-as mais adequadas e eficazes;
  • Aumentar os limites de estabilidade;
  • Minimizar e se possível eliminar os riscos de queda;
  • Reduzir ou, se possível, eliminar o medo de cair;
  • Incentivar a atividade e o dia-a-dia habitual;
  • Aperfeiçoar a segurança, autonomia e independência do idoso e, deste modo, melhorar a sua qualidade de vida;
  • Aumentar a segurança no lar, para que o idoso lá possa permanecer.

O plano de intervenção no âmbito da prevenção inclui exercícios com graus de dificuldade crescente dirigidos aos défices e dificuldades individuais do geronte, de acordo com a evolução das suas capacidades.

É prioritário o idoso continuar a viver no seu meio habitual, realizar as suas atividades de vida diária de modo independente mas com a máxima segurança, o que justifica a necessidade de identificação e eliminação de riscos extrínsecos de queda do lar, e não descurar os benefícios da atividade física.